Monday 20 April 2009

"Fado Malhoa"

"Queiramos ou não, o Fado é a mais alta criação cultural portuguesa. (...) Associou-se o Fado ao carácter dos Portugueses. Afirmou-se que o nosso carácter é triste e fechado. (...) Já não se escreve sobre a Rua da Mariquinhas, sobre os fadistas gingões, sobre as tascas e as guitarradas. Mas continua-se a escrever sobre os grandes temas humanos: o amor, a solidão, o ciúme, a morte. Escreve-se sobre os divórcios, a droga, os flagelos sociais e os dramas pessoais. Canta-se e vive-se de acordo com este século."
Pedro Baptista-Bastos

O Fado é um género musical distintivo da cultura portuguesa e da sua identidade e caracteriza o "sentimento" português. O Fado foi instrumento de divulgação e de difusão da nossa cultura. Foi levado aos mais célebres palcos por ilustres fadistas, conquistando admiradores nos quatro cantos do mundo. Reconhecemo-nos no Fado. Este género musical tem vindo a crescer com uma notória visibilidade acompanhado sempre de grandes nomes como: a Severa, Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Camané, Mariza, Carlos do Carmo, António Mourão, David Mourão Ferreira, etc.
A palavra Fado provém do latim fatum e significa destino. O fadista canta o sofrimento, a saudade, a tragédia, a desgraça, a sina e o destino, a dor, o amor e o ciúme, a noite, as misérias da vida, o quotidiano da cidade, etc.


Em 1910 o Fado surge pela primeira vez na arte, mais precisamente na pintura portuguesa “o Fado” de José Malhoa. Esta obra, inspirada em modelos reais, com o fadista Amâncio e a sua amante Adelaide da Facada, procura apontar o ambiente em que o Fado se insere e evidenciar por isso a realidade fadista. Este quadro foi exposto em diversas galerias no estrangeiro onde obteve um enorme sucesso. Mas, somente em 1917 foi exposto em Lisboa na Exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes. Contudo não conquistou o sucesso desejado e o êxito que tivera no plano internacional pois a sociedade intelectual e aristocrática teve grande dificuldade em aceitar o tema representado, já que o Fado era ainda relacionado com classes inferiores/baixas e a ambientes de marginalidade o que não correspondia aos padrões vigentes da época. Assim, não se distinguia “nem pela beleza, nem mesmo pelo moral”(1) e era julgada como uma “composição realista, e mesmo chocante”(2). Porém, este desprezo por parte da elite não impediu que este quadro não adquirisse reconhecimento nas camadas populares. Pelo contrário, inspirou várias obras teatrais como a peça de Bento Mântua “O Fado episódio em 1 acto”, filmes como o filme mudo de Maurice Mariaud, e repertórios como o conhecido “ Fado Malhoa” com letra de José Galhardo e cantado pela célebre Amália Rodrigues.

(1) Crf. Álvaro Maia em entrevista ao jornal Capital, 5 Maio 1917

(2) Crf. Hermano Neves em entrevista ao jornal Capital, 5 Maio 1917

No comments:

Post a Comment